Brasil assume liderança em grupo da ONU para criação do Estado Palestino e reforça críticas a Israel

- jun, 13 2025
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- Gilmar Fernandes
Brasil na linha de frente da diplomacia pela Palestina
Enquanto o mundo observa a escalada de tensões no Oriente Médio, o Brasil resolveu ocupar um dos papéis mais ativos da sua recente história diplomática internacional. O país acaba de assumir, junto com o Senegal, a liderança de um grupo de trabalho das Nações Unidas cuja missão é desenhar as bases legais e políticas para o reconhecimento de um Estado Palestino. A expectativa é que esse trabalho culmine em uma conferência internacional marcada para junho de 2025, um evento tratado como divisor de águas na luta pelo reconhecimento formal da Palestina.
A postura do governo brasileiro não surgiu do nada. Nas últimas semanas, declarações do presidente Lula inflamaram o debate. Ao comentar as mortes de civis em Gaza, ele afirmou que não se trata de uma guerra, mas de extermínio, dizendo ser "um exército matando mulheres e crianças". Essa fala repercutiu globalmente, deixando claro que o Brasil não pretende manter neutralidade diante do conflito Israel-Palestina desta vez.
No campo prático, o grupo de trabalho chefiado pelo Brasil tem a tarefa de propor critérios para o futuro Estado Palestino, como fronteiras seguras e condições econômicas mínimas para a viabilidade do país. Tudo isso dentro do princípio internacionalmente defendido da solução de dois Estados, que prevê a coexistência pacífica de Israel e Palestina.

Das palavras à ação: histórico e movimentos recentes
O apoio brasileiro à causa palestina não é novidade; ele ganhou impulso em 2010, quando o Brasil reconheceu oficialmente o Estado Palestino dentro das fronteiras traçadas em 1967, nas gestões anteriores de Lula. Agora, porém, esse apoio ganhou outro fôlego. Em março de 2025, Brasil e Palestina divulgaram um documento conjunto condenando a continuidade dos ataques em Gaza, cobrando um cessar-fogo imediato, retirada total das tropas israelenses e abertura dos acessos humanitários.
Para montar esse quebra-cabeça internacional, o Ministério das Relações Exteriores faz questão de conversar com todos os membros da ONU. O engajamento, contudo, não é obrigatório. Cada país decide se participa ou não da formulação das novas regras. A diferença é que, dessa vez, o Brasil está no comando — algo que não passava despercebido há décadas nessas mesas de negociação.
Outro ponto fundamental é a oposição frontal do governo brasileiro à expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia. Para o Itamaraty, as construções equivalem à anexação de territórios e corroem qualquer possibilidade de avanço do plano de dois Estados.
Adicionalmente, a coalizão formada com França e Arábia Saudita amplia a pressão internacional. Esses países articulam para julho uma conferência global focada no reconhecimento da Palestina. O objetivo é cristalino: criar um movimento diplomático de peso capaz de forçar negociações reais e estabelecer novos parâmetros para a coexistência na região.
A tradição diplomática brasileira na região não é de hoje. Basta lembrar de Oswaldo Aranha, o diplomata que presidiu a sessão da ONU responsável pela criação de Israel em 1947. Agora, muitos veem o posicionamento de Brasília como um movimento de equilíbrio, tentando reparar décadas de desequilíbrio nas relações internacionais relativas à Palestina.
O trabalho do grupo liderado pelo Brasil deve durar meses, com discussões complexas sobre fronteiras, segurança e economia. O país quer deixar claro que não apenas faz discursos em grandes fóruns, mas está disposto a se envolver diretamente nas tratativas mais polêmicas desse cenário explosivo.