Özge Gürel, protagonista de Dolunay: trajetória, sucesso e impacto

- set, 5 2025
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- Flávio Gomes
De Silivri para o mundo: origem e formação
Uma série turca exibida em 2017 virou passaporte internacional para uma atriz até então conhecida do público local. Özge Gürel, nascida em 5 de fevereiro de 1987, em Istambul, cresceu em Silivri e trilhou um caminho pouco óbvio: chegou a cursar Comércio Exterior na Universidade Beykent, abandonou o curso e trocou a estabilidade de escritório por aulas de interpretação e gestão de carreira. O risco pagou. Em 2010, estreou na TV com a personagem Zeynep, em Kızım Nerede?, e começou a chamar atenção pelos papéis de apoio que entregavam mais do que o roteiro pedia.
Filha de pai circassiano e de uma família materna turca oriunda de Tessalônica, ela leva essa mistura de raízes para a tela, com personagens que nunca são de uma nota só. O salto veio em 2014, quando assumiu o protagonismo em Kiraz Mevsimi (Cherry Season). A série fez história ao ser a primeira produção turca exibida na TV aberta italiana, no Canale 5, entre 2016 e 2017, e abriu as portas do mercado europeu para a atriz. A engrenagem da exportação de dramas turcos estava a todo vapor, e o nome dela passou a vir junto na mala.
Seu repertório cresceu com trabalhos de registro diferente. No cinema, estrelou İlk Öpücük (2017), adaptação turca de 50 First Dates, em que explorou timing cômico e vulnerabilidade sem cair no caricato. Pouco depois, viria o papel que a colocaria no radar global de vez.

Dolunay, impacto global e os passos seguintes
Dolunay (2017) — lançada internacionalmente como Full Moon e Bitter Sweet — apresentou uma heroína moderna num cenário clássico de romance: Nazlı Pınar Aslan, uma jovem determinada que divide apartamento com a melhor amiga Fatoş e a irmã Asuman, estuda e trabalha para pagar as contas, e sonha em viver da gastronomia. A trama acelera quando ela se casa com Ferit Aslan, interpretado por Can Yaman, para dar um núcleo familiar ao sobrinho órfão dele, o pequeno Bulut. Nada de princesa resgatada: Nazlı sustenta a própria voz, constrói seu restaurante e não transforma o casamento em atalho financeiro.
A química com Can Yaman virou combustível de audiência e de exportação. A série ganhou dublagens, legendas e novos horários em países europeus, no Oriente Médio e na América Latina. Na Itália, onde a base de fãs da teledramaturgia turca cresce há anos, Dolunay encontrou terreno fértil já preparado pelo sucesso de Cherry Season. Em mercados hispânicos, a combinação de comédia romântica com conflitos familiares sofisticados funcionou como porta de entrada para quem ainda não conhecia as novelas turcas.
O arco de Nazlı ajudou a reposicionar Gürel no mapa de atuação. Até então mais associada à comédia romântica, ela levou para a personagem camadas de ambição e autonomia, com cenas de cozinha que viraram assinatura visual da série. A gastronomia não era só pano de fundo: marcava o desejo de independência econômica, o prazer de criar e um ponto de atrito com o universo corporativo e controlado de Ferit. Esse contraste rende o tipo de dinâmica que funciona na TV: duas forças que se opõem, se desafiam e, aos poucos, se completam.
A carreira seguiu em rota internacional. Em 2020, ela voltou a dividir a tela com Can Yaman em Bay Yanlış (Mr. Wrong), retomando a parceria que o público já conhecia. O projeto tinha outra vibração — mais leve, solar — e mostrou que a dupla conseguia circular entre tons diferentes sem perder a mão. Para além da TV, a presença dela cresceu em festivais e eventos na Europa, reflexo de um fenômeno que extrapola o roteiro: a circulação global dos dramas turcos, que hoje rivalizam com produções latinas e coreanas no gosto do público.
Um detalhe biográfico sempre interessa aos fãs: desde julho de 2022, Özge é casada com o ator Serkan Çayoğlu, parceiro de cena em Kiraz Mevsimi. O casamento consolidou uma história que começou no set e se tornou um dos casais mais acompanhados da cena turca nas redes sociais.
O apelo de Gürel vem de um pacote claro: naturalidade diante da câmera, timing preciso para comédia romântica e uma leitura contemporânea das protagonistas. As personagens não são janelas para o herói masculino brilhar; elas têm trabalho, conflitos e projetos próprios. Em Nazlı, isso aparece no gesto simples de manter o emprego, estudar e empreender, mesmo quando a vida oferece o atalho do conforto. Para uma audiência cada vez mais atenta à representação feminina, esse traço faz diferença.
O efeito-Dolunay também pode ser medido fora da tela. Locais de filmagem em Istambul viraram ponto de visita para fãs, a culinária ganhou espaço nas conversas sobre a série e o figurino de Nazlı — prático, jovem, sem excessos — ajudou a aproximar a personagem de quem assiste. É a fórmula do reconhecimento: quando o público enxerga hábitos, dúvidas e desejos parecidos com os seus, a empatia aparece.
No mapa da televisão turca, Gürel faz parte de uma geração que profissionalizou a exportação do produto. Equipes mais enxutas, uma cadência de gravação intensa e roteiros que misturam melodrama clássico com temas atuais criaram um estilo próprio, hoje facilmente identificado. Nessa engrenagem, nomes que atravessam fronteiras carregam responsabilidade extra: manter a consistência de entrega e escolher projetos que conversem com públicos diferentes, do prime time italiano ao streaming em países hispânicos.
Para quem começa a acompanhar agora, vale um guia rápido de pontos de virada na carreira:
- 2010 — Estreia em Kızım Nerede?, como Zeynep.
- 2014-2015 — Protagonista de Kiraz Mevsimi (Cherry Season), porta de entrada para a TV italiana.
- 2017 — Cinema com İlk Öpücük, adaptação de 50 First Dates; e Nazlı em Dolunay, papel que a projeta globalmente.
- 2020 — Reencontro com Can Yaman em Bay Yanlış (Mr. Wrong).
- 2022 — Casamento com Serkan Çayoğlu, parceiro de cena em Kiraz Mevsimi.
O que vem adiante? A demanda por histórias turcas segue alta, e a faixa de personagens que combinam humor, romance e ambição — especialidade da atriz — está sempre no radar de canais e plataformas. Quando uma artista constrói uma assinatura reconhecível e ainda assim mostra fôlego para variar o tom, as portas tendem a permanecer abertas.
Entre a menina de Silivri que estudava e trabalhava para bancar o sonho e a protagonista que virou referência fora de casa, a distância é grande. Mas a trajetória ajuda a explicar o fenômeno: disciplina, escolhas certeiras e personagens que falam a língua do público — às vezes literalmente, em dublagens pelo mundo; outras, no idioma universal de uma boa história.