Libertadores 2025: o que mudou nos clubes brasileiros para as oitavas

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Seis brasileiros nas oitavas e um clássico que derruba gigante

Do sorteio até a bola rolar, passaram-se mais de dois meses. Tempo suficiente para elencos mudarem, ideias de jogo serem ajustadas e prioridades se rearrumarem no calendário. Seis brasileiros seguem na Libertadores 2025 — Botafogo, Flamengo, Fortaleza, Internacional, Palmeiras e São Paulo — mas um cai já de cara: Flamengo e Internacional duelam entre si.

O mata-mata começa na terça-feira, 12 de agosto. O Fortaleza abre a série às 19h contra o Vélez Sarsfield, na Argentina. No mesmo dia, às 21h30, o São Paulo visita o Atlético Nacional, na Colômbia. Quarta, 13 de agosto, às 21h30, o Maracanã recebe o confronto mais pesado desta fase: Flamengo x Internacional. Na quinta, 14 de agosto, tem Botafogo x LDU às 19h, no Rio, e Universitario x Palmeiras às 21h30, em Lima. As partidas de volta ficam para a semana seguinte, entre 19 e 21 de agosto. A decisão está marcada para 29 de novembro, no Monumental de Lima.

Esse “hiato” entre sorteio e jogos coincidiu com janela de transferências e, para alguns, com o Mundial de Clubes nos EUA. Quem jogou no meio do ano teve desgaste e reajuste de carga; quem ficou em casa treinou e mexeu mais no time. O resultado? Elencos com caras novas, rotação diferente e planos de jogo ligeiramente redesenhados para jogos eliminatórios.

Como chegam os brasileiros e o que muda no jogo

Como chegam os brasileiros e o que muda no jogo

Fortaleza x Vélez é o primeiro teste. O time cearense costuma propor mais, com amplitude pelos lados e pressão pós-perda. Em mata-mata fora de casa, a chave é equilibrar ambição com segurança entrelinhas. O Vélez, em casa, tende a acelerar transições e encher a área com cruzamentos rápidos. Bola parada vai contar: escanteios fechados e faltas laterais costumam decidir esse tipo de confronto.

O São Paulo encara o Atlético Nacional em um ambiente sempre competitivo. Medellín cobra intensidade: o gramado rápido exige passe limpo e concentração para não entregar contra-ataques. O São Paulo deve alternar bloco médio com saídas mais longas quando pressionado, algo que os treinadores vêm ensaiando ao longo do ano. O detalhe que separa avanço e frustração: eficiência nas poucas chances claras e proteção do lado fraco quando os laterais sobem.

Flamengo x Internacional é duelo de peso, camisa e memória de grandes noites. No Maracanã, o time da casa costuma controlar posse e tentar amassar nos primeiros 20 minutos. O Inter, por seu lado, sente-se confortável em jogo reativo: linhas compactas, saída direta quando possível, e chegada com muitos no último terço. Depois de uma janela movimentada, ambos investiram em alongar elenco — gente para manter a intensidade até o fim e segurar lesões. A gestão de ritmo será decisiva: quem escolher os momentos certos para acelerar sem se expor leva vantagem.

O Botafogo abre a série no Nilton Santos contra a LDU e carrega uma missão simples no papel, complexa na prática: construir vantagem sem sofrer gols, porque a volta em Quito, a 2.850 metros de altitude, mexe com perna, pulmão e tomada de decisão. Para esse tipo de confronto, vale ouro ter elenco rotativo, preparar a logística (viagem com antecedência, aclimatação, suplementação) e praticar variações de bola parada que quebrem a marcação por zona típica dos equatorianos.

O Palmeiras viaja para enfrentar o Universitario em Lima. Jogo com cara de controle: posse com paciência, poucos riscos no corredor central e atenção às transições do adversário, que costuma morder no erro. Em mata-mata, o Palmeiras tem o hábito de administrar tempos de jogo e explorar a maturidade de quem foi testado em fases decisivas seguidas. A janela serviu para repor peças e dar alternativas no banco — principalmente um ponta com 1x1 e um meia capaz de quebrar linhas com passe.

De forma geral, a janela de meio de ano no Brasil costuma entregar três movimentos: reposição de quem foi vendido, contratação pontual para ajustar lacuna tática e promoção de jovens que já vinham treinando no profissional. As comissões técnicas também têm usado esse período para treinar gatilhos de pressão (quando apertar, onde induzir), ajustar saída com zagueiro canhoto e ensaiar bolas paradas ofensivas mais criativas, como escanteios curtos com bloqueio legal.

O regulamento pesa na estratégia. Não existe gol qualificado: se o agregado empatar, a decisão vai direto para os pênaltis. Isso muda a cabeça do treinador no jogo de ida — vale mais proteger vantagem curta do que se expor em busca de “gol fora”. O VAR segue em todas as partidas, e a arbitragem tem sido rígida com mãos desnatural e bloqueios em escanteios; ensaiar movimentos limpos evita falta boba dentro da área.

Calendário também mexe com o tabuleiro. Quem jogou o Mundial de Clubes ou teve maratona com viagens longas precisou rodar elenco; quem ficou mais “leve” investiu em recuperação e treino específico para cenários de mata-mata. Em número de substituições, continuam as cinco por jogo, distribuídas em três janelas além do intervalo, o que abre espaço para planos de minuto 60: a famosa troca de fôlego para manter a pressão alta ou corrigir encaixes no corredor lateral.

Os adversários estrangeiros formam um funil cascudo. Os argentinos chegam competitivos: River mais dominante com posse, Estudiantes forte de bola parada, Racing intenso nas transições, Vélez agressivo em casa. No Paraguai, Libertad e Cerro Porteño entregam duelos físicos e muita disputa por segunda bola. LDU impõe altitude e bom jogo aéreo; Atlético Nacional tem camisa e atmosfera; o Peñarol, no Uruguai, é pragmático e duro de bater. E o Universitario, em Lima, virou especialista em tirar ritmo de quem gosta de acelerar.

Para os brasileiros, três pontos comuns podem definir quem passa: 1) bola parada ofensiva e defensiva bem treinada; 2) laterais equilibrando subida com cobertura por dentro para não abrir corredor para contra-ataque; 3) goleiro seguro no jogo aéreo, porque mata-mata encurta a margem de erro. No banco, novas opções da janela dão respiro: um zagueiro para fechar jogo, um meia para acalmar posse, um ponta para esticar transição.

Vale lembrar: o fator casa importa, mas não decide sozinho. Terça a quinta, o ambiente vai ferver — Castelão, Maracanã, Nilton Santos, Morumbi e Allianz já mostraram em outras campanhas que empurram, sim. Ainda assim, as oitavas costumam pender para quem erra menos nos detalhes escondidos: recuo fraco, cobertura atrasada, falta lateral mal defendida. Nesse nível, uma jogada vale uma classificação.

Com seis brasileiros no bolo e um clássico matando gigante já nas oitavas, a margem para improviso praticamente desaparece. Quem leu bem a janela, ajustou as engrenagens e chega inteiro fisicamente larga na frente. A partir de terça, as respostas saem do papel e ganham o placar.